Talvez essa seja uma das relação mais “polêmicas” do universo das práticas integrativas: a conciliação da prática do Reiki Ryōhō com o dinheiro. Já avançamos muito nesse questão, mas o que ainda alimenta esse debate?

Eu acredito que são essas três questões:

1ª – a confusão que se faz do Reiki Ryōhō com práticas espiritualistas religiosas que não cobram por atendimento;

2ª – a não valorização das práticas de bem estar e de conhecimento de si;

3ª – a falta de conhecimento acerca da história do Reiki Ryōhō.

Sobre a primeira questão, acredito que “temos” responsabilidade direta nisso. Digo “temos”, porque esse é um problema nosso, sobretudo dos shihan. Esse ruído é provocado pelo ensino e prática com conteúdo que em nada tem a ver com a prática original do Reiki Ryōhō. É tarefa nossa desconstruir essa confusão.

Na prática tradicional, não negamos a espiritualidade, muito pelo contrário, mas entendemos que, quanto à espiritualidade, a vivência de cada praticante é única. E sendo singular, cada um vivenciará o Reiki junto à espiritualidade de uma forma totalmente pessoal, mas, sempre, desvinculada de dogmas, de verdades inflexíveis e de condutas discriminatórias ou intolerantes: Reiki é para todos! 

O segundo ponto acho que pode ser desmembrado em dois: o materialismo que nos impulsiona à satisfação material em detrimento do cuidado interior, e o problema da elitização das práticas terapêuticas em geral. Quanto ao materialismo, parece ser óbvio o quanto o investimento em objetos materiais para satisfação dos nossos desejos chamar muito mais a atenção do que o investimento seja em práticas terapêuticas ou em práticas de bem estar. A satisfação rápida e ineficiente dos nossos desejos em algo material não soluciona nossa falta de pertencimento, nossa sensação de falta. Isso só em terapia, de preferência aliada a práticas de bem estar, para dar conta. Se permitir ao cuidado, ao autoconhecimento, deveria ser necessidade primeira.

Mas, não podemos fugir da discussão do quanto às práticas terapêuticas e integrativas em geral foram elitizadas. Será que as Práticas Integrativas estão a serviço da população mais pobre? Ou é apenas para uma classe média e para as elites? A população mais pobre também deseja igualmente cuidado e transformação. E o quanto nós como Praticantes estamos colocando nossas práticas a serviço dessa população que é a bem da verdade é a maior em número? O quanto nós estamos somente nos colocando a serviço das elites com valores de curso e atendimento altíssimos? Não a toa muitos profissionais das Práticas Integrativas aderiram a valores flexíveis dos seus atendimentos (mas sei que isso ainda é complicado sobretudo para profissionais que precisam sublocar espaço e pagar taxas altas).

Quanto ao terceiro e último ponto que elenquei, quem se diz contra a cobrança no Reiki Ryōhō possui desconhecimento da história da nossa prática. A problematização da cobrança no Reiki é uma discussão completamente ocidental. No Japão, os cursos e atendimento são cobrados desde à época de Usui Sensei (o fundador da prática). A única ressalva que se tinha era: os cursos eram mais caros e os atendimentos mais acessíveis. Eram poucos os praticantes na primeira metade do século passado no Japão, e os poucos shihan tinham que se deslocar para várias partes do país – viajar pelo Japão naquela época era privilégio dos mais abastados. Não à toa, a maioria dos shihan tinham boas condições econômicas.

Gostaria de terminar esse texto com duas reflexões: uma voltada a nós praticantes e outra voltadas a quem procura pelo nosso atendimento. A nós, penso o quanto precisamos ser responsáveis com o conhecimento que transmitimos, qualquer ruído provocado por nós, reverberará por tempo indeterminado. Façamos uma prática responsável, social  e não elitizada, as PICS são para todos. Quanto a quem busca o nosso atendimento, valorize as práticas terapêuticas e as práticas integrativas, deem a elas, no mínimo, o mesmo valor que daria a um objeto material.

Gassho,

Nilton

Sobre o autor

Professor do Usui Reiki Ryōhō, Florais de Bach e Bioeletrografia (foto Kirlian).

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